Seja como for, seja onde for...

No início da década de 80, lembro de várias pessoas que frequentavam minha casa, amigos, parentes ou colegas de trabalho de meus pais. Uma dessas pessoas tinha o apelido de Russo. Na época, minha vida se resumia em escola e bagunça, bagunça e escola... Mas lembro da maneira de falar, dos gestuais, dos cacoetes do tal senhor... Outro dia, o vi na rua e jurava que ele era muito maior!! Mas este Russo, que trabalhava na mesma empresa que meu pai, contava longas histórias de uma paixão que teve... na Rússia!! Seu nome era Cathryn e nosso imaginário tinha essa mulher como sendo uma Deusa, uma pessoa quase inatingível, tamanha era a veneração de Russo...

Ao mesmo tempo, assim como hoje, as regras, os costumes, o cotidiano das pessoas era radicalmente afetado por aquilo que acontecia nas novelas. Roupas, bordões, trejeitos, decoração, nomes de bebês... tudo girava em torno daquilo que atores e atrizes mostravam na telinha... E neste mesmo início dos anos 80, uma jovem atriz despontava como sendo uma revelação... Era a mulher que todas as mulheres queriam ser: Mayara Magri!

Foi neste mesmo período, que Dona Elisa, hiper-mãe e hiper-professora por vocação, sentiu a necessidade de ter mais um filho. Para ela, aquele era o momento certo para chamar ao mundo um quarto rebento.

Meses depois, o Brasil vivia a euforia de ter saído “em definitivo” da ditadura e a condução ao poder de um presidente civil, mas também a tristeza de ver a pessoa que, teoricamente, representaria os brasileiros convalescer... Era Tancredo Neves, que aguardava o 21 de abril para “deixar a vida e entrar para a história”...

Lembro como se fosse hoje: era 1985, um domingo de Trapalhões e Fantástico. Eu, meu irmão e minha irmã tentávamos aproveitar ao máximo do tempo com brigas e brincadeiras... Uma senhora chamada Tia Alda nos olhava!! Quando, subitamente, Antônio Britto, então porta-voz da presidência anunciava: “Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos...” Logo em seguida, Fafá de Belém entrava cantando uma versão histórica do Hino Nacional brasileiro!!! Lembro de ter olhado para o rosto de Tia Alda e ver algumas lágrimas e uma espécie de medo em seu olhar...

Alguns minutos depois, Seu Jacintho adentrava exclamando: “Uma menina linda nasceu às 10 horas e 23 minutos, e vai se chamar Cathryn Mayara...” Nossa reação foi de um torcedor fanático quando seu time ganha o campeonato, de um ganhador da loteria... Pulávamos e nos abraçávamos como crianças que descobriram que irão ao parque de diversões...

De lá para cá, todo o dia 21 de abril é feriado na família... Mas não porque o governo resolveu dizer que foi quando Tiradentes foi morto e esquartejado, ou porque era inaugurada neste dia a capital do Brasil, Brasília. Ou ainda porque Ayrton Senna do Brasil vencia sua primeira corrida de Formula 1. É feriado por causa do nascimento de Catrhyn Mayara (nas fotos de Diego Z., aparece de blusinha branca)!

Uma moça doce, de personalidade forte, que sabe usar sua inteligência como ninguém. Companheira, simpática, extrovertida, mau-humorada às vezes, mas de um humor negro tremendo, que ajudei a cuidar...

Quando a carreguei em meus ombros na saída da escolinha... Quando troquei suas fraldas lotadas... Quando, em plena puberdade (e, justiça seja feita, junto com Caren Viviane – que também merece um post) agüentei sua infância agitada e cheia de bonecas... Quando a levei para passear... Quando a fiz ver que a vida é tudo isso mesmo que estamos vendo... Sem querer, estava ajudando a cuidar de uma mulher que veio para mudar os rumos da história de muita gente!!

Seja como for, seja onde for...

Seja legal com seus irmãos!!

Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente

quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.

LEMBRANDO: O rapaz de amarelo chama-se Christian Rafael e também ajudei a criar...mas isso é uma outra história...

Bjão