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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

No Sangue

Outro dia comentava com a família que adoraria ser “repórter-correspondente” numa catástrofe, como a do Haiti. Estaria pronto, a qualquer momento, com todos os equipamentos necessários para o embarque!
 Haitiano é resgatado após passar duas semanas soterrado. FOTO: AFP

Logo ouvi um sonoro: Capaz?? Você se arriscaria?
Minha resposta também foi sonora: Mas claro, com toda certeza!!

Mas lhes digo: não iria apenas para o Haiti... Iria para o Nordeste do Brasil... Iria para o município de Agudo, aqui mesmo no Rio Grande do Sul... Iria para Ilha da Pintada... Ou logo ali, na RS-122, onde ocorrem inúmeras tragédias! Não porque gosto da desgraça alheia (não buscaria só desgraças, claro!) Há duas respostas para esse meu sentimento.

A primeira é a mais forte: sou JORNALISTA por natureza... não consigo ficar alheio, vendo o que acontece sem retratar, sem contar pra todo mundo que queira ouvir! E como todo o jornalista, sou também falastrão... sim, falo demais! É a minha natureza... E, veja bem, nada a ver com formação acadêmica ou que o valha: estou falando de ter essa necessidade de buscar respostas na veia, correndo com meus glóbulos brancos!!

Lembro que em 11 de setembro de 2001, quando as torres gêmeas do World Trade Center desabaram, também pensei muito nisso!

Nova York, 11 de setembro de 2001 - 
As equipes de resgate trabalham em meio ao que sobrou 
do maior prédio da cidade.
FOTO: AP

Outra “suposta” resposta é que está nas tragédias, o raio-x da sociedade. Somos o que as desgraças mostram! Eu preciso entender como as tragédias acontecem e que reflexos elas têm na gente... Na pessoa-humana, como diria o filósofo...

O problema é que o velho e bom jornalismo está sendo tragado pela tecnologia, pelo excesso de “informação”, com o perdão da redundância.

Exemplo disso foi o que aconteceu com o presidente Lula na noite desta quarta-feira, 27 de janeiro. Você deve ter ficado sabendo durante o dia, pela TV ou por um portal de Internet na sua página inicial, que o presidente teve um mal estar na capital pernambucana e sua pressão chegou a 12/18...

Eu estava “twitando” naquela noite/madrugada quando li os primeiros 140 caracteres sobre o assunto! Levei um susto... Não fosse pela falta de patrocínio, teria embarcado no primeiro avião para ver (in loco), o que esta tão alardeada tecnologia não mostrava! 
Me deu uma agonia, meu coração palpitou, quase tive uma crise como a de Lula. Me senti de mãos atadas, impotente! Por longos momentos, nada acontecia... nada se sabia, nada se falava de concreto!

Na tarde desta quinta, o Marcelo Tas, em seu blog, resumiu muito bem o que eu senti:

“Lula, principal autoridade do país, vive cercado de microfones, câmeras e jornalistas, certo? Errado. Ontem, no final da noite, o presidente teve uma forte crise de hipertensão - pressão arterial 18 x 12 - em Recife enquanto se preparava para embarcar para Brasília. Antes da meia-noite, foi levado às pressas para o Hospital Português num comboio de carros que cruzou as ruas da capital pernambucana em velocidade superior a 100 Km/h. Por volta de 23h45, o presidente dá entrada no atendimento de emergência. Até ali, Lula, com certeza o brasileiro mais seguido e fotografado dos últimos oito anos, não havia recebido qualquer atenção da mídia nacional.”

“A partir de 0h20, o jornalista Jamildo Melo começa a publicar informações curtas dos acontecimentos em seu blog hospedado no site do Jornal do Comércio... Começam a surgir no twitter repercursões do fato e outros, muito poucos, jornalistas que tentam seguir os acontecimentos do Recife. O que se segue é algo surpreendente: por quase duas horas, o Blog de Jamildo é a única fonte de informação da situação de emergência que vive o presidente da nação. Nenhum portal de internet, TV, rádio estava acordado para o fato. O twitter vira fonte de troca de informação e alertas entre jornalistas sonolentos. A TV só noticia o fato à beira das 3 horas da madrugada.”

“...O piriri de Lula acabou revelando duas fragilidades: a fragilidade da saúde do presidente e a fragilidade da "velha" mídia, o que inclui os grandes veículos na internet. Afinal, qual é o diagnóstico da doença em ambos os casos?”
 Presidente Lula recebe alta do Hospital Real Português, no Recife. 
FOTO: RICARDO STUCKERT/PR

Será que nos acostumamos a esperar as assessorias de imprensa darem a “informação oficial”? Será que nos acomodamos? Será que não queremos mais buscar os dois lados da notícia? Ou será que queremos ficar aqui sentados, assistindo a um bando de rotulados, se degladiando na frente de câmeras e microfones, naquilo que se convencionou chamar de “reality show”?

Neste exato momento, dois ou três integrantes de uma casa (que nada tem de casa) brigaram! Sites de vários tamanhos e estilos mostram todos os ângulos do que aconteceu lá dentro. Psicólogos e sociólogos foram convidados a analisar o fato. A ex-professora de um deles deu seu depoimento. A mãe de outro jura de pé-junto que o rapaz teve um educação impecável e nunca foi malcriado! A noiva de outro garante que ele é dos mais amáveis com que já “ficou”! E as informações sobre o assunto tomam conta até dos noticiários de outras emissoras concorrentes.

Enquanto isso, um menino de sete anos é resgatado dos escombros de uma escola, derrubada pela enxurrada que assola o Peru!

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